Dona Maija no seu tear - Fotos: Arquivo Pessoal Hele Hilden
Arte é a aplicação de habilidade e imaginação na criação de objetos, ambientes ou experiências que podem ser compartilhados com os outros. A arte pode ser manifestada de diversas formas: pintura, escultura, música, dança, poesia, teatro, ourivesaria, e até formas mais modernas como fotografia e cinema.
Artesanato é a forma de arte com considerável atenção para a utilidade prática. É a produção de objetos artísticos que possuem aplicação prática na vida diária das pessoas.
O artesanato também pode ser manifestado de diversas formas: trabalhos em madeira e barro, cerâmica e porcelana; vidro e cristal; cestaria; linhas e lãs na forma de tricô, crochê, bordado, tecelagem, tapeçaria; metais como ferro, cobre, bronze, ouro, prata, joalheria.
Os objetos produzidos pelos artesãos podem ser muito variados: joias, louças, vasos, panelas, roupas, toalhas, mantas, tapetes, cestos, móveis, luminárias, e milhares de outros objetos para uso na vida diária.
Tecelagem finlandesa
ARTESANATO FINLANDÊS
Os trabalhos de artesanato são muito difundidos na Finlândia, são ensinados em todas as escolas e existem muitas associações de artesãos em todo o país. Entre os trabalhos se destacam as peças de vidro e cristal, porcelana e cerâmica, tecelagem, bordado, pintura e impressão de tecidos, trabalhos em madeira e couro, cestaria em palha de trigo e casca de árvore, trabalhos em metal, joalheria.
ARTESANATO FINLANDÊS DE PENEDO
Em Penedo não existe artesanato exatamente igual ao produzido na Finlândia, não temos muitos dos materiais usados na Finlândia. O artesanato finlandês também não é apropriado para o clima tropical do Brasil. Os pesados trabalhos em lã seriam insuportáveis no calor do Brasil. As belíssimas roupas de feltro do norte da Finlândia não podem ser usadas no Brasil.
Atelier de Dona Maija Valtonen
Em Penedo tivemos um artesanato diferente, desenvolvido pelos finlandeses, usando técnicas finlandesas e inspirado no artesanato da Finlândia. Era o artesanato típico de Penedo. No início os trabalhos de artesanato eram destinados ao uso caseiro. Como não tinham muitos recursos, os finlandeses aprenderam a usar todos os materiais disponíveis. Os tecidos dos sacos de farinha e outros alimentos eram usados para fazer roupas. A palha dos diversos tipos de vegetação era usada para tecer tapetes e outros produtos como descansos para pratos.
Mais tarde o artesanato finlandês aumentou com os trabalhos em bucha vegetal, tecelagem no tear manual, pintura em tecido, velas, pedra e cerâmica, madeira, bordados. A principal característica do artesanato de Penedo era sua aplicação prática. Todos os trabalhos artesanais dos finlandeses eram destinados ao uso doméstico, toalhas de mesa, descansos de pratos, bolsas, roupas. Os finlandeses não produziram objetos sem utilidade do tipo “Lembrança de Penedo”.
ORIGEM DOS MOTIVOS FOLCLÓRICOS FINLANDESES
Os motivos decorativos das diversas culturas do mundo são bastante parecidos, afinal todos têm a mesma origem. Grande parte dos motivos folclóricos se origina na natureza. Os motivos de flores, pássaros e árvores, usados com frequência na Finlândia, já eram usados no Egito antigo de onde se difundiram para a Pérsia e depois para a Europa e a Rússia. A Finlândia recebeu influência da Europa e da Rússia, a Carélia, região leste, foi mais influenciada pela Rússia e a região oeste recebeu mais influência da Europa.
Trabalhos de Eva Hilden
Os animais mais representados são as aves, especialmente o pavão e a águia. As aves com cauda levantada como os pavões aparecem pela primeira vez na Pérsia e tornam-se comuns na Rússia, Hungria e nos Alpes. A ave com cauda aberta estendida para trás e asas abertas é mais comum na Finlândia.
Outros animais usados no folclore são os cavalos, leões e animais lendários como os dragões. Os motivos de cavalos eram usados na Pérsia nos anos 600-700. As figuras se modificam com o tempo e na Finlândia aparecem figuras de homens montados em pássaros. As figuras humanas também podem se confundir com a montaria dando origem a seres fantásticos, meio homem, meio animal.
Bordado típico finlandês, bordado por Helena Hilden
Os motivos de plantas eram usados nos tecidos do Oriente. O lírio ou flor de lis é muito usado por muitos povos. Na Finlândia a árvore da vida representada entre duas aves é muito comum. Às vezes a figura humana representada entre as aves ou animais se modifica com o tempo e acaba se transformando em uma árvore.
Os artistas e artesãos modernos continuam buscando inspiração na natureza da Finlândia, suas obras representam as flores, folhas, árvores, os lagos, o mar, o céu e a aurora boreal, os animais da floresta.
Algumas das mais belas representações da arte do povo da Finlândia oriental são os trabalhos manuais das mulheres. As formas variadas e a riqueza de cores mostram a alma alegre desse povo.
Muitos dos trabalhos antigos da Carélia estão preservados nos Museus da Finlândia e também temos alguns trabalhos no Museu Eva Hilden em Penedo. Os museus são visitados pelos artistas modernos buscando a história de seu povo e inspiração para seus trabalhos.
TECELAGEM FINLANDESA
A arte da tecelagem é muito antiga. Os tapetes de junco trançado já eram usados 5000 anos antes de Cristo, a tecelagem foi desenvolvida no Oriente Médio, Egito, Síria e Pérsia. Os tapetes persas são famosos.
Os trabalhos em tear manual são muito difundidos na Finlândia. Os finlandeses que vieram para Penedo em 1920, viajaram de navio e trouxeram móveis, utensílios e ferramentas, incluindo os teares manuais. As mulheres logo começaram a produzir tecidos e tapetes para suas casas em Penedo. Quando começaram as pensões e pousadas, os hóspedes admiravam os belos tecidos usados na decoração e queriam comprar os tecidos e tapetes. Nas décadas de 1950 e 1960, diversas senhoras finlandesas começaram a vender seus trabalhos de tecelagem em pequenas lojas na frente de suas casas e deram início ao artesanato de Penedo.
Em seus teares as finlandesas fabricavam toalhas de mesa, jogos americanos, mantas, cachecóis, bolsas, tapetes e outros artigos para o lar. Os materiais utilizados eram bastante variados, além dos fios de algodão, linho e lã utilizavam sisal, ráfia, palha, bucha, taliscas de madeira, retalhos de tecido e todos os materiais que a imaginação permitisse.
Alguns artesãos finlandeses descobriram que podiam fazer muitos produtos com a bucha vegetal. Além dos esfregões para banho, faziam bolsas, chapéus e bonés, chinelos, descansos para pratos, tapetes. O boné de bucha era marca registrada dos moradores de Penedo. Os chinelos eram usados por todos dentro de casa. E toda casa tinha um capacho de bucha na porta.
O famoso boné de bucha usado por Toivo Asikainen
Os capachos eram produzidos no tear com os retalhos de bucha que sobravam depois de confeccionar os outros produtos. Um detalhe interessante é que a bucha precisava estar molhada para ser usada no tear, o tecelão apertava a bucha molhada entre os fios do tear e espirrava água para todos os lados. O tear ficava na varanda para não molhar a casa. No inverno a água era muito fria, então os capachos e tapetes de bucha somente eram produzidos no verão.
As modelos finlandesas de Penedo posando com os produtos de bucha. Atrás no centro temos Eva Hilden
Uma senhora finlandesa produzia meias e pantufas de lã. Seus produtos coloridos e bonitos eram muito apreciados.
Na década de 1970, Eva Hilden começou a produzir tecidos pintados, usados para fazer blusas, vestidos, toalhas de mesa, bolsas. Outras artesãs também começaram a fazer esse tipo de artesanato produzindo belos trabalhos.
Na década de 1970 também surgiram as velas decorativas, produzidas incialmente por uma família finlandesa. Este trabalho continua em Penedo, mas não é mais feito por finlandeses.
Depois surgiram outros artesãos, não eram finlandeses, mas produziam belas peças em cerâmica, joias de prata e cobre inspiradas nas joias finlandesas e outros trabalhos.
Os shoppings ainda não haviam invadido Penedo, não havia lojas com vitrines de vidro. As lojinhas eram pequenas, uma garagem, uma varanda, um pequeno galpão na casa do artesão. Não tinham empregados, cada artesão produzia e vendia pessoalmente seus produtos. As lojinhas ficavam nas estreitas ruas laterais, não havia um centro comercial. Os turistas gostavam de caminhar e encontrar os tesouros escondidos nas ruas estreitas, nas lojinhas pequenas. Conversavam com os artesãos, ficavam amigos, voltavam sempre para comprar mais um produto.
Infelizmente não temos mais artesanato finlandês em Penedo. A última lojinha que funcionava junto ao Museu Eva Hilden foi fechada, por motivos alheios a vontade dos artesãos que ainda produziam trabalhos finlandeses.
Ainda temos artesanato de verdade em Penedo, embora não seja finlandês. O tecelão Rodrigo produz belas pelas nos seus teares. Temos lojas de artesãos que produzem peças bonitas em crochê e bordados, alguns produzem velas decorativas. Temos alguns artesãos que trabalham com madeira, aproveitando os galhos que caem das árvores, a madeira de demolição. Temos excelentes marceneiros que produzem móveis de madeira de alta qualidade. Temos uma loja que ainda é finlandesa, o artesanato da Eeva Hohental, mas seu artesanato é muito variado, inclui muitas peças que não são finlandesas.
Mas temos também muitas lojas que revendem produtos industrializados e importados, produtos que não são artesanato, muitas vezes com preços caros e qualidade duvidosa. Os turistas não merecem ser enganados. Se querem atrair e manter o turismo em Penedo, precisam oferecer produtos de boa qualidade e com preços justos. E por favor, nada de usar o nome Finlândia ou finlandês em lojas e produtos que não estão relacionados de forma alguma com a Finlândia ou com os finlandeses de Penedo. Os turistas merecem ser bem atendidos. Se ficarem satisfeitos com os produtos e os preços do artesanato, certamente retornarão muitas vezes a Penedo.
Helena Hilden