O Cinema de Macalé: Festival “Na trilha de Jards Macalé” apresenta filmografia onde o músico está inserido como ator ou assinando e integrando trilhas sonoras, promove debates com diretores e show dedicado ao cinema
Idealizado pela cineasta Rejane Zilles, festival reúne 11 filmes, entre longas, médias e curta-metragens, que ajudam a compor a história de Jards Macalé, seja no cinema ou na música;
Evento realiza ainda debates entre o artista e diretores como Cláudio Assis e Eryk Rocha, sempre sob mediação de Fred Coelho - e assina o ensaio biográfico de Macalé;
Show inédito em celebração ao cinema, também com direção de Rejane Zilles, “Cine Macalé” abre a mostra com apresentação de Jards em voz e violão dedicada a composições que foram trilhas de filmes;
Jards Macalé em “O amuleto de Ogum”
Uma ode ao cinema, através de Jards Macalé. Ou uma celebração a Jards Macalé por meio do cinema. Num entrelaçamento sem amarras, a soltura da trajetória de Jards se embrenha na história do cinema nacional.
Contemporâneo dos diretores que fundaram o Cinema Novo, o artista tem o caminho de sua vida retratado nas telas, em atuações das mais diversas - assinando trilhas sonoras, ou mesmo atuando. O projeto inédito “Na trilha de Jards Macalé”, que tem idealização, direção e curadoria de Rejane Zilles - cineasta, atriz e produtora, além de companheira do artista -, conta essa história de diversas maneiras. Com uma mostra de cinema reunindo 11 filmes que trazem Macalé - cinco deles com exibição exclusiva -; quatro rodas de conversa com encontros do artista, todos mediados por Fred Coelho, com diretores e atores; e ainda uma apresentação musical inédita em que o artista faz uma homenagem ao cinema, enquanto trechos de filmes são projetados no palco.
Na trilha de Jards Macalé conta com patrocínio da Lei Aldir Blanc, por meio do Governo do Estado do Rio, e tem estreia no dia 23 de março, indo até o dia 28 do mesmo mês com exibição gratuita no Canal Youtube do artista (youtube.com/jardsmacaleoficial )
Na trilha de Jards Macalé
Jards Anet da Silva, ou Jards Macalé, ou Macao, ou, ou, ou. Cada nome ou epíteto do artista poderia contar uma história diferente, tamanha a abrangência de sua obra, de suas parcerias, de suas andanças na arte. Jards é violonista, cantor, compositor, produtor, diretor musical, arranjador, ator, escritor e outros atributos construídos ao longo de mais de cinquenta anos de trajetória.
O artista é figura-chave para se compreender o que de mais interessante aconteceu na cultura musical brasileira desde os anos 1960. Nesta caminhada, citando apenas alguns nomes, temos a participação de artistas como Glauber Rocha, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Waly Salomão, Maria Bethânia, Gal Costa, Moreira da Silva, Ciro Monteiro, Jorge Amado, Darcy Ribeiro, Clementina de Jesus, Nelson Pereira dos Santos, Caetano Veloso, Naná Vasconcelos e muitos outros. Transitando com total liberdade na música, no cinema, na poesia, na imprensa, nas artes plásticas e na televisão, sua obra foi fartamente documentada ao longo dos anos. O convite é seguir Na trilha de Jards Macalé.
Cine Macalé |o show
Na trilha de Jards começa, no dia 23, terça-feira, no espaço mais importante para Macalé em sua trajetória: o palco. Mas o show de abertura, que será exibido às 20h30 no youtube do artista, feito em voz e violão, aponta para o flerte mais simbólico de seu percurso artístico: as telas. A apresentação é uma ode ao cinema, celebrando em canções os filmes que serão exibidos na mostra. Jards apresenta ainda canções de sua obra que integraram outros filmes, tudo isso imerso nas imagens cinematográficas projetadas ao fundo, que ambientam o show e dão pistas da mostra que se inicia na sequência.
Mostra | Na trilha de Jards
A presença de Macalé no cinema impressiona. Quantos artistas podem contar quase uma dezena de filmes que se dedicam a contar sua história, ou cuja trilha está intrinsecamente ligada a sua obra? Na trilha de Jards traz 11 filmes que celebram esse caminho, entre curtas, médias e longas, sob curadoria de Rejane Zilles - responsável, entre outras coisas, pelo Festival Mimo de Cinema.
Na seleção, figuram alguns clássicos do cinema brasileiro como “Tenda dos milagres” e “Amuleto de Ogum”, de Nelson Pereira dos Santos, e “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade. Nos dois primeiros filmes, Jards Macalé assina a trilha sonora e participa como ator. No clássico “Macunaím”, Jards assina duas músicas da trilha, compostas sobre poemas de Mário de Andrade. Também compõem a mostra filmes como “Bethânia bem de perto”, de Julio Bressane e Eduardo Escorel, “Big jato”, de Claudio Assis, “Canções do exílio: a labareda que lambeu tudo”, de Geneton Moraes Neto, “Casa 9”, de Luz Carlos Lacerda, “Conceição - autor bom é autor morto”, de Daniel Caetano, Samantha Ribeiro, Andre Sampaio, Guilherme Sarmiento e Cynthia Sims, “Jards”, de Eryk Rocha, “Jards Macalé: um morcego na porta principal”, de Marcus Abujamra e João Pimentel, e “Tira os óculos e recolhe o homem”, de André Sampaio. Os filmes da mostra ficam disponíveis de 23 a 28 de março, no canal do Youtube do artista (youtube.com/jardsmacale).
Rodas de conversa | mediação: Fred Coelho
O projeto traz ainda um mergulho nos bastidores desses filmes, e os contextos em que foram feitos. Do dia 23 ao 27 de março, diariamente às 20h, Jards conversa com diretores e atores de alguns dos filmes exibidos. Um papo sempre mediado por Fred Coelho, pesquisador da obra de Macalé e autor do ensaio biográfico de Jards. Serão conversas com diretores como Claudio Assis, André Sampaio e Daniel Caetano, Eryk Rocha e com o ator Ney Santanna.
24 de MARÇO | 20 h
Filme Amuleto de Ogum
Jards descobre o cinema
A conversa terá como tema principal as primeiras aproximações e trabalhos de Jards Macalé com o meio cinematográfico de seu tempo. Contemporâneo dos diretores que fundaram o Cinema Novo, Jards se torna amigo e parceiro de trabalho de dois gigantes: Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos. Com o segundo, Jards não só compôs trilhas, como se tornou ator. É a partir dos filmes de Nelson que o músico e o ator poderão mergulhar nas histórias de sets de filmagem e outros temas do período.
Com Jards Macalé e Ney Santanna
25 de MARÇO | 20h
Filme Big Jato
Um cantor ator
Neste dia, Jards Macalé conversará com Cláudio Assis, um dos que já dirigiram o músico como ator em personagens de ficção em seu longa-metragem Big Jato. Como é que Jards constrói seus personagens? Como ele lida com a disciplina do set e as rotinas de gravação interpretando um roteiro? E como um diretor consegue conduzir esse cantor-ator durante as filmagens? Melhor dupla para esse debate, impossível.
Com Jards Macalé e Claudio Assis
26 de MARÇO | 20h
Filmes: Conceição - Autor bom é autor morto / Tira os Óculos e Recolhe o Homem
Cinema, música e experimentação
Nesta mesa teremos a oportunidade de ouvir Jards e os diretores falando sobre seus processos criativos dentro da tradição de um cinema experimental brasileiro e do cinema independente em geral. Diretores de dois filmes transgressores em que Jards faz papéis especiais, eles conversarão com Jards sobre filmes de baixo orçamento e muita criatividade.
Com Jards Macalé, André Sampaio e Daniel Caetano
27 de MARÇO | 20h
Música verdade
Ao lado de Erik Rocha, diretor do premiado documentário Jards, o músico poderá falar sobre como é ser personagem de um registro do seu cotidiano. O diretor também falará sobre seu processo criativo original na feitura do filme. Um debate sobre cinema, música, montagem e verdade.
Com Jards Macalé e Eryk Rocha
* Todas as conversas serão mediadas pelo pesquisador e jornalista Fred Coelho.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA MOSTRA DE FILMES
O AMULETO DE OGUM
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Ficção|1974| 112 min
A história é narrada pelo cego Firmino, um violeiro nordestino. No sertão, Maria leva seu filho Gabriel a um centro de umbanda, a fim de buscar proteção. O rapaz ganha um amuleto, capaz de gerar grande cobiça.
BETHÂNIA BEM DE PERTO
Direção: Julio Bressane e Eduardo Escorel
Doc|1966| 32 min
Documentário sobre Maria Bethânia, no início de sua carreira como cantora, quando chegou ao Rio vinda da Bahia para substituir Nara Leão no show Opinião e foi morar no apartamento de Jards Macalé, em Ipanema. As imagens internas foram todas captadas no quarto desta casa. A aparição de Bethânia, naquele momento, foi um choque cultural que abalou a cidade.
BIG JATO
Direção: Claudio Assis
Ficção| 93 min |2015
O menino Francisco passa os dias a acompanhar o pai (Matheus Nachtergaele) no trabalho, ou melhor, nas estradas. O homem é motorista do imponente Big Jato, um caminhão-pipa utilizado para limpar as fossas da cidade sem saneamento básico. Mas o garoto está mais interessado nas ideias do tio, um artista libertário e anarquista. À medida que descobre o primeiro amor, Chico percebe a vocação para se tornar poeta.
CANÇÕES DO EXÍLIO: A LABAREDA QUE LAMBEU TUDO
Direção: Geneton Moraes Neto
Doc|91min| 2011
Canções do Exílio: a Labareda que Lambeu Tudo reúne depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner e Jards Macalé sobre um período conturbado da vida brasileira: a onda de prisões que se seguiu à decretação do AI-5, em 1968. Presos em São Paulo e transferidos para o Rio, Caetano e Gil deixaram o Brasil e seguiram para o exílio em Londres. Os depoimentos revelam episódios desconhecidos do público, como o show que Gil, preso, fez para a tropa no quartel. Caetano descreve os diálogos com o cineasta Glauber Rocha sobre o papel dos militares na vida política brasileira.
CASA 9
Direção: Luiz Carlos Lacerda
Documentário|70 min|2011
Nos anos 70, em plena ditadura militar, o compositor Jards Macalé e o cineasta Luiz Carlos Lacerda (Bigode) dividiram uma casa no Rio de Janeiro - que se tornou centro de convergência de músicos, cineastas e escritores, onde realizaram filmes e canções hoje clássicos da nossa cultura.
CONCEIÇÃO - AUTOR BOM É AUTOR MORTO
Direção: Daniel Caetano / Samantha Ribeiro / Andre Sampaio / Guilherme Sarmiento / Cynthia Sims
Ficção | 78min |2008
Um grupo de jovens se encontram em um bar para decidir a história do filme que eles querem fazer. Mas, os seus personagens não ficam satisfeitos com o resultado.
JARDS
Direção: Eryk Rocha
Doc I 94 min I 2012
JARDS é um ensaio poético-musical sobre o cantor, compositor e violonista Jards Macalé. O filme celebra o instante do processo de criação do artista, a afinação, a repetição, a improvisação dos instrumentos. O fluxo do homem e a música. O êxtase e a solidão do artista que coexistem num entrelaçamento constante entre arte e vida.
JARDS MACALÉ: UM MORCEGO NA PORTA PRINCIPAL
Direção: Marcos Abujamra e João Pimentel
Doc|2008| 72 min
Construído através de depoimentos de personalidades como Nelson Motta, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Paulinho da Viola, entre outros, e de grandes recursos de materiais de arquivos, este é um retrato aprofundado que analisa a vida, a obra, a trajetória e a carreira de Jards Macalé, um inusitado, controverso e contestador artista da cultura brasileira.
MACUNAÍMA
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Ficção|98 min|1969
Macunaíma é um herói preguiçoso, safado e sem nenhum caráter. Ele nasceu na selva e de preto, virou branco. Depois de adulto deixa o sertão em companhia dos irmãos e vive aventuras na cidade. Macunaíma ama guerrilheiras e prostitutas, enfrenta vilões milionários, policiais e personagens de todos os tipos.
TENDA DOS MILAGRES
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Ficção|2h15m|1979
A Bahia do século 20 e a forte mistura de raças e religiões são temas da adaptação do romance homônimo de Jorge Amado. A narrativa conta a história de Pedro Archanjo, intelectual autodidata que contestou ideias racistas. Nesta produção, Jards Macalé vive Pedro Arcanjo na tela e assina a trilha sonora.
TIRA OS ÓCULOS E RECOLHE O HOMEM
Direção: André Sampaio
Ficção | 20min |2008
Gibi cinematográfico. Filme de breque, baseado em fatos reais, protagonizado pelo espetacular Jards Macalé, interpretando a si mesmo e incorporando o mitológico Kid Morengueira. Em tempos de ditadura, um delegado da Polícia Federal manda prender Macalé, por considerar pornográfica uma canção por ele interpretada. Moreira da Silva acompanha o amigo à delegacia, mas não o livra da detenção. O episódio inspirou a única parceria entre eles, o samba “Tira os óculos e recolhe o homem”, espécie de crônica cinematográfica do acontecimento, argumento do filme.
SERVIÇO
Na trilha de Jards Macalé
direção e curadoria: Rejane Zilles
23 de março | abertura da Mostra com o Show Cine Macalé | às 20h30
* após o show, os 11 filmes ficam disponíveis para exibição no canal youtube.com/jardsmacaleoficial
Os filmes ficam disponíveis para visualização até o último dia da mostra.
24, 25, 26 e 27 de março | rodas de conversa | às 20h