O rio Palmital, que se junta ao das Pedras na altura do hotel Suarez, tem talvez a cachoeira mais bonita de toda a graciosa micro-bacia de Penedo. Conhecida como Cachoeira do Romeu, ela é riquíssima em variedade de quedas d` água e de poços cavados e polidos numa imensa laje que, na parte baixa, estende seu rajado colorido pelo fundo de uma piscina natural de cerca de 30 metros. Nas margens, a exuberante mata Atlântica, especialmente ali coalhada de palmitos, donde o nome do rio.
Hoje a cachoeira está inacessível ao público, porque fica dentro de uma grande propriedade toda cercada, mas nos meus tempos de garoto – anos 50 e 60 - íamos muito lá. O sítio pertencia então ao seu Romeu, uma pessoa afável, simpática, que estava sempre numa lida no jardim ou na cozinha e nos saudava com alegria: “aproveitem a cachoeira, meus filhos!”. A trilha para a cachoeira passava ao lado da cozinha da casa.
Tínhamos ainda a vantagem de sermos, eu e meu irmão, amigos do filho do seu Romeu, o Paulinho. Isso nos dava, inclusive, acesso ao interior da casa, onde havia boa biblioteca na qual se destacavam livros de Plínio Salgado. Seria seu Romeu integralista? Não posso afirmar, só sei que gostávamos muito dele e que as pessoas são sempre bem maiores, mais complexas, do que os rótulos.
Seu Romeu, em geral de calção e sem camisa, careca e sorridente, recebia bem a qualquer um, tinha orgulho da cachoeira que levava seu nome. Era um tempo de menos gente no mundo. Hoje, provavelmente seu Romeu fechasse o acesso, pelos motivos que estão apontados aí abaixo, num PS.
Pois bem: tempos depois, seu Romeu já falecido, foi que se deu o caso da “função” da cachoeira. O Paulinho pôs o sítio à venda, e certo dia chegou um camarada rico, de São Paulo, para ver o imóvel. Primeiro visitou a casa, que embora simples era uma excelente casa, e depreciou-a. Depois andou pela área do sítio e reclamou que era muito acidentada. Finalmente, ao pé da cachoeira, contemplou-a por uns breves segundos, balançando a cabeça negativamente, antes de apontar para o monumento e dar seu parecer:
‘Isso aqui para mim não tem função”.
O Paulinho sempre foi um sujeito educado, incapaz de grosseria, mas, talvez por respeito à memória do pai, mandou o cara à merda. Poderia também te-lo afogado nas águas da grande piscina natural para que ele visse ali alguma função.
PS: Sabemos que a diferença entre remédio e veneno depende da dose. Assim, a cachoeira pode ser boa ou ruim. Quem mora atualmente próximo às cachoeiras de Penedo tem sofrido com grupos que as usam como se fossem salões de festa. Som altíssimo, de auto-falantes de carros ou de bar próximo; sem falar na barulhada de alguns bugres mal regulados nas descargas, nas gritarias. O poder público deveria regular isso, uma vez que a parte alta de Penedo é área de amortercimento de dois parques (o Nacional e o Estadual da Pedra Selada), além de ser zona residencial. É preciso respeitar os bichos e as pessoas. E não se trata só das cachoeiras. Algumas casas alugadas para festas, provavelmente já equipadas com aparelhagens potentes de som, também infernizam a vida dos moradores, muitas vezes pela noite adentro.
PS2: Há muito já tinhamos que ter liberado as “drogas”, regulamentando a venda e tratando os que precisam, para acabar com a matança do pessoal pobre que trabalha na ponta do comércio e que vai se armar cada vez mais para defender seu empreendimento contra investidas da PM, também formada por gente oriunda das classes pobres. Que guerra sem sentido é essa?!