O PRAÇA É NOSSO - A propósito da Pedra Selada
25/07/2021 13:17 em Últimas notícias

Foto: Fernando Oliveira

 

As duas horas de subida a pé já são boas por si – até porque, a certa altura da trilha, tem uma cachoeirinha e um banco de madeira muito bom para contemplação -, mas a visão de 360 graus que se tem do pico da Pedra Selada é o melhor de tudo.

 

De um lado, o mar de morros de Minas, seus povoados, rios, estradinhas de terra, pequenas fazendas. Do outro, a grande planicie do médio Paraíba, as cidades de Resende, Itatiaia, Porto Real, Floriano e, em dias bem límpidos, até Barra Mansa; e, claro, ainda do lado de cá, o rio Paraíba, a estrada de ferro, a via Dutra – geografia para economia de escala, que começou com o café.

 

Para além da beleza, a paisagem nos invoca a história, porque de Minas chegaram os bandeirantes capitaneados por Simão da Cunha Gago, em meados dos 1700, desbravando as serras até avistarem o que batizaram de Campo Belo - a planície cortada pelo manto de espumas do majestoso rio, como cantou o poeta autor do hino da cidade. Impossível não pensar em  fundar um arraial. Para tormento dos índios puris. Os que se renderam estão hoje nos rostos mestiços dos brasileiros.

 

“Nossa Senhora da Conceição do Campo Belo da Paraíba Nova” – este o primeiro nome, mudado mais tarde em homenagem ao Conde de Resende, vice-rei que assinou a sentença de Tiradentes. Foi só um burocrata, a ordem vinha da Corte (a banalização do mal...). Se um dia quiserem trocar de novo, sugiro Tymburibá, uma árvore que está no centro de uma lenda dos puris - e se algum índio tiver cometido alguma barbaridade sob sua copa, o vegetal não tem qualquer comprometimento, nem burocrático. Fica corretíssimo.

 

É interesssante lembrar que o grande motivo da insurreição mineira era a alta carga tributária, o quinto do ouro, menor do que a nossa carga de hoje, que se bobear chega a 40%. Com o fim do ouro os mineiros se espalharam, foram formando outras cidades, e, das mais próximas à região da Pedra Selada, desceram e ajudaram a formar a população de Resende, como os afluentes lá do alto fazem com o Paraíba.

 

Mas saiamos dessa variação de trilha e voltemos ao pico da Pedra, só que agora em noite de lua cheia: que beleza a visão, tanto do lado de Minas quanto do Rio. E, no que toca a noites de luar, outro local bom para ver Resende é a rampa de parapente, que se acessa a menos de um km do ponto mais alto da subida para Mauá. Dali, a cidade se aproxima – e imaginem como seria mais bonito o quadro na primeira metade do século passado, só com a ferrovia e a pequena aldeia sem prédios, como um presépio.

 

E chego afinal no que eu mais queria, caro leitor, que era contar dois episódios que vivi no pico da Selada. No primeiro deles, meu celular tocou assim que cheguei no alto - durante a subida perde-se o sinal. Pois bem: era minha amiga Graciete, da Pousada dos Pássaros, querendo combinar alguma coisa relativa à promoção de Penedo.

 

        - Onde você está, Gustavo?

        Era terça-feira, por volta de 11h da manhã.        

        - Ô Graciete, você está em Resende?

        - Sim.

        -Dá pra ver a serra de onde você está?

        -Sim...

        - Tá vendo a Pedra Selada?

        - Estou…

        - Então, eu tô aqui; no pico da pedra à sua esquerda.

 

 

Na minha outra subida, também num dia útil, havia lá um casal . A moça sentada num lugar seguro, tapando o rosto com as mãos, e o rapaz, um japinha, pulando perigosamente pelas beiradas da pedra para fotografar. Eu disse a ele:

 

        - Cuidado, amigo… Você está facilitando com esse abismo…

        Aí a moça se virou pra mim, vi que chorava:

        - Obrigada, senhor, já estou cansada de dizer isso a ele... Depois despenca aí e a mãe dele vai dizer que eu que empurrei.

 

PS: Por ocasião do impeachement da Dilma foi colocada uma cerca longitudinal no meio do gramado da esplanada dos ministérios para separar quem era contra de quem era a favor. Está chegando a hora em que vão ter de colocar a tal cerca na horizontal, separando os três poderes do povo todo. E que a pressão sirva para melhorar, um pouco que seja, o nível da nosssa representação.

 

GUSTAVO PRAÇA

 

 

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