O Neném passou por mim puxando uma carreta de esterco no tratorzinho e encostou ao lado da casa do Zé Inácio. Eu só queria comprar um queijo, mas como ele chegou primeiro acabei esperando e testemunhando uma negociação maior.
O dono da casa fez um café que a gente tomou na cozinha.
O Zé Inácio tinha a receber do Neném umas réguas de madeira, dessas de fazer cerca. Eram réguas de cinco, seis e oito metros, nenhum dos dois lembrava exatamente quantas de cada tamanho. Foram puxando pela memória e concordaram num arredondamento do total de metros.
O ajuste sobre o preço por metro corrido também foi rápido:
-Doze?
- Quinze.
- Quatorze?
- Ta bão, quatorze.
O total de metros vezes 14 foi arredondado para 700 reais. Mas tinha de descontar o carreto de esterco que o Neném trazia: 120 reais.
- Tem também aquelas tábuas de soalho – lembrou Neném
- É mermo... já até instalei aí no piso da sala... Quanto cê faz o metro?
- Num sei... ela nova tava a 150,00 o metro quadrado.
- Mas a que você mandou pra mim era usada.
- Mas tinha sido botada há pouco naquela casa que a Neuzinha aluga, e só andou ali um pessoal hare krishna que tirava o sapato, tá quase nova.
- E por que a Neuzinha rancou?
- Num sei... preferiu botar cerâmica; trocou as tábuas comigo pela mão de obra, o cimento e a areia.
- Hum... Vamo fazer 130,00 o metro quadrado?
- Tá. Cê lembra quantos metros foi?
- A gente calcula, as tábuas tão todas aí no piso da sala.
Zé Inácio coça a cabeça:
- Se bem que vai ser ruim de calcular... porque a Claudete quis fazer o piso igual viu numa revista, e de forma que é um triângulo, cumpadi... Cê sabe fazer conta de metro quadrado em triângulo? Porque a madeira tá toda lá nesse triângulo.
- Sei não.
- O senhor sabe, seu Gustavo?
- Também não.
- Panha lá a trena. Vamo medir metro corrido e pôr um preço duas vezes o das réguas, porque o piso é com macho e fêmea... – propôs o Neném.
- Tá certo.
Na conta deles as tábuas de assoalho ficaram em 300,00. Somados aos 120,00 da carreta de esterco, 420,00. Debitados dos 700,00 das réguas ainda restava 280,00 de crédito para o Zé Inácio.
- E essa geladeira? – perguntou Neném
- O que é que tem?
- Esse clic- clic que ela tá fazendo?
- Pois é, a Claudete já me disse isso mermo... Ela de vez em quando para de gelar...
- Isso aí é o relê. Eu rumo procê, cumpadi. Se não rumá esse aí mermo, eu tenho um lá em casa de uma geladeira velha. Te cobro 80,00, e aí fico te devendo só 200,00.
- Tá certo.
- E cê não qué mais um carretinho de esterco?
- A 120,00?
- Eu tô fazendo agora a 150,00. Esse de 120,00 que eu truxe hoje é porque cê já tinha encomendado há uns tempos.
- Humm... Me traz dois carretos por 200,00 então...
- Tá bão. Aí a conta fechou, certo? Num mexemo com dinheiro.
- Isso aí.
Neném subiu no tratorzinho e foi embora. Zé Inácio passou mais um café enquanto escolhia e ensacolava meu queijo. Antes de eu ir embora ele acendeu um palheiro e me fez a proposta:
- Ô seu Gustavo, o senhor tá com uma casinha alugada aqui na serra, num é mermo? Deve de tá precisando de um carretinho de esterco, às veiz quer prantar arguma coisinha; tem o Helinho do seu Juca trabalhando pro senhor durante a semana... Não quer pegar comigo um carretinho a 130,00? Na mão do Neném tá a 150,00, o senhor viu. Se quiser eu já aviso ao Neném pra deixar um lá pro senhor... O senhor pensa aí com calma, me fala depois...
- Tá bom, tá feito. Mas então me faz esse queijo a 20,00 em vez de 30,00.
- Beleza. Fechou.