O PRAÇA É NOSSO - Roça's Business
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Publicado em 05/08/2021

 

O­­­­­­­ Neném passou por mim puxando uma carreta de esterco no tratorzinho e encostou ao lado da casa do Zé Inácio. Eu­­ só queria comprar um queijo, mas como ele chegou primeiro acabei esperando e testemunhando uma negociação maior.

 

O dono da casa fez um café que a gente tomou na cozinha.

 

O Zé Inácio tinha a receber do Neném umas réguas de madeira, dessas de fazer cerca. Eram réguas de cinco, seis e oito metros, nenhum dos dois lembrava exatamente quantas de cada tamanho. Foram puxando pela memória e concordaram num arredondamento do total de metros.

 

O ajuste sobre o preço por metro corrido também foi rápido:

 

            -Doze?

 

            - Quinze.

 

            - Quatorze?

 

            - Ta bão, quatorze.

 

 

O total de metros vezes 14 foi arredondado para 700 reais. Mas tinha de descontar o carreto de esterco que o Neném trazia: 120 reais.

 

            - Tem também aquelas tábuas de soalho – lembrou Neném

 

            - É mermo... já até instalei aí no piso da sala... Quanto cê faz o metro?

 

            - Num sei... ela nova tava a 150,00 o metro quadrado.

 

            - Mas a que você mandou pra mim era usada.

 

            - Mas tinha sido botada há pouco naquela casa que a Neuzinha aluga, e só andou ali um pessoal hare krishna que tirava o sapato, tá quase nova.

 

            - E por que a Neuzinha rancou?

 

            - Num sei... preferiu botar cerâmica; trocou as tábuas comigo pela mão de obra, o cimento e a areia.

 

            - Hum... Vamo fazer 130,00 o metro quadrado?

 

            - Tá. Cê lembra quantos metros foi?

 

            - A gente calcula, as tábuas tão todas aí no piso da sala.

 

 

Zé Inácio coça a cabeça:

 

            - Se bem que vai ser ruim de calcular... porque a Claudete quis fazer o piso igual viu numa revista, e de forma que é um triângulo, cumpadi... Cê sabe fazer conta de metro quadrado em triângulo? Porque a madeira tá toda lá nesse triângulo.

 

            - Sei não.

 

            - O senhor sabe, seu Gustavo?

 

            - Também não.

 

            - Panha lá a trena. Vamo medir metro corrido e pôr um preço duas vezes o das réguas, porque o piso é com macho e fêmea... – propôs o Neném.

 

            - Tá certo.

 

 

Na conta deles as tábuas de assoalho ficaram em 300,00. Somados aos 120,00 da carreta de esterco, 420,00. Debitados dos 700,00 das réguas ainda restava 280,00 de crédito para o Zé Inácio.

 

            - E essa geladeira? – perguntou Neném

 

            - O que é que tem?

 

            - Esse clic- clic que ela tá fazendo?

 

            - Pois é, a Claudete já me disse isso mermo... Ela de vez em quando para de gelar...

 

            - Isso aí é o relê. Eu rumo procê, cumpadi. Se não rumá esse aí mermo, eu tenho um lá em casa de uma geladeira velha. Te cobro 80,00, e aí fico te devendo só 200,00.

 

            - Tá certo.

 

            - E cê não qué mais um carretinho de esterco?

 

            - A 120,00?

 

            - Eu tô fazendo agora a 150,00. Esse de 120,00 que eu truxe hoje é porque cê já tinha encomendado há uns tempos.

 

            - Humm... Me traz dois carretos por 200,00 então...

 

            - Tá bão. Aí a conta fechou, certo? Num mexemo com dinheiro.

 

            - Isso aí.

 

 

Neném subiu no tratorzinho e foi embora. Zé Inácio passou mais um café enquanto escolhia e ensacolava meu queijo. Antes de eu ir embora ele acendeu um palheiro e me fez a proposta:

 

            - Ô seu Gustavo, o senhor tá com uma casinha alugada aqui na serra, num é mermo? Deve de tá precisando de um carretinho de esterco, às veiz quer prantar arguma coisinha; tem o Helinho do seu Juca trabalhando pro senhor durante a semana... Não quer pegar comigo um carretinho a 130,00? Na mão do Neném tá a 150,00, o senhor viu. Se quiser eu já aviso ao Neném pra deixar um lá pro senhor...  O senhor pensa aí  com calma, me fala depois...

 

- Tá bom, tá feito. Mas então me faz esse queijo a 20,00 em vez de 30,00.

 

- Beleza. Fechou.

 

 

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