Temos a Rua do Médico em Penedo, mas de onde surgiu este nome? Atualmente algumas pessoas até falam erroneamente da Rua dos Médicos, mas a rua tem o nome em homenagem a um médico especial, Dr. Norman Leite de Sousa.
Dr. Norman nasceu em 24 de janeiro de 1926, no Rio de Janeiro, e faleceu em 12 de maio de 2008 no Rio de Janeiro.
Formado em medicina pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil em 1956. Foi um pioneiro da Medicina do Trabalho, Segurança e Prevenção de Acidentes no Brasil.
Começou sua vida profissional trabalhando como estagiário com o Professor Carlos Chagas. Depois trabalhou alguns anos em seu consultório particular.
Em 1961 foi contratado como médico do Estaleiro Ishikawajima do Brasil S.A., em 1964 foi promovido a chefe do serviço médico. Trabalhou na mesma empresa até sua aposentadoria em 1996.
Participou da Associação Brasileira de Prevenção de Acidentes – ABPA, foi Presidente do Conselho Regional dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro – COREGER da ABPA, depois foi Vice-Presidente da ABPA. Participou de diversos congressos nacionais e internacionais na área de Medicina do Trabalho e Prevenção de Acidentes.
Foi membro da Comissão de Revisão da Norma NB-18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, e da Norma NBR 14280 – Cadastro de acidente do trabalho – Procedimento e Classificação, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Dr. Norman Leite de Sousa - Foto: Arquivo Pessoal Helena Hilden
Seu contato com Penedo começou cedo, em 1940 seu pai, Octávio Vianna de Sousa trabalhava com plantações de laranjas em Queimados, na Baixada Fluminense. As mudas para os laranjais eram adquiridas na Colônia Finlandesa de Penedo. Certo dia sua mãe se assustou encontrando dois homens estrangeiros, altos e louros na sua cozinha. Eram Toivo Uuskallio e Toivo Asikainen, vieram entregar as mudas de laranjeiras. Norman, que na época tinha 14 anos, se interessou pela história dos finlandeses e passou suas primeiras férias em Penedo, na Pensão de Dona Liisa Uuskallio, onde atualmente funciona a Pousada Penedo. Encantou-se com Penedo e voltou sempre.
Mais tarde, comprou um terreno de Toivo Uuskallio, na rua atualmente chamada de Rua do Médico, em sua homenagem. Construiu logo uma pequena casa para passar os fins de semana.
Naquela época Penedo ainda não tinha posto de saúde, os doentes não tinham a quem recorrer. Um dia algum morador doente resolveu consultar o médico que passava o fim de semana em Penedo, foi muito bem atendido e contou isso para todos os amigos. Começou então o consultório informal do Dr. Norman. Todos os domingos pela manhã uma fila se formava na Rua do Médico, doentes em busca de alívio com o médico que nada cobrava pela consulta, atendia a todos com boa vontade e um carinho especial.
Vendo a situação dos doentes de Penedo Dr. Norman se dedicava. Pedia mais amostras de medicamentos aos laboratórios. Organizou um movimento no Estaleiro Ishikawajima, os outros trabalhadores doavam roupas, brinquedos e livros para os pacientes de Dr. Norman em Penedo. Além da consulta os doentes ganhavam os medicamentos, roupas e mimos para as crianças. Estas logo descobriram a bondade de Dr. Norman, chegavam sozinhas na Rua do Médico, fingindo uma tosse, só para ganhar uma revista em quadrinhos.
Ocasionalmente, Dr. Norman era chamado no meio da noite para atender um caso urgente, quando necessário ele mesmo levava o paciente em seu carro para a Santa Casa em Resende. Muitas vezes não havia tempo para isso, chegou a fazer o parto de algumas moradoras em Penedo.
Os pobres recompensavam Dr. Norman como podiam, umas espigas de milho, um pouco de mandioca, uma penca de bananas ou outras frutas que cresciam no quintal, um pão feito em casa, uma cesta de ovos, e até galinhas vivas. As tecelãs de Penedo davam tapetes e outros trabalhos. Os mais ricos, que também eram atendidos gratuitamente em Penedo, davam garrafas de vinho e outras bebidas.
Ocasionalmente os doentes apresentavam problemas curiosos. Uma senhora chegou com uma menina que sofria de “farta de parpite”, seria falta de apetite? Outro chegou com “dor no figo”, ou seria fígado? A jovem apresentava problemas de “misturação”, problemas femininos? E um homem chegou um pouco confuso reclamando de “dor no útero”, foi preciso explicar que os homens não possuem esse órgão.
A casa na Rua do Médico. Foto: Arquivo Pessoal de Helena Hilden
Algumas pessoas eram visitantes frequentes, com ou sem doença. Uma senhora que Dr. Norman chamava de “a dona da lata”, chegava sempre segurando uma lata grande embaixo do braço, que era usada para recolher qualquer objeto útil que encontrava pelo caminho. Sempre pedia novalgina, mas queria a liquida porque o comprimido “dava queimação”, e depois pedia “o remédio do Zé”. Dr. Norman perguntava quem era o Zé e qual era seu problema. A mulher respondia que certa vez Dr. Norman havia dado um remédio muito bom para o Zé. E Dr. Norman pacientemente respondia que não lembrava do Zé nem do remédio, e pedia para o Zé comparecer pessoalmente para buscar o remédio. E o tal Zé nunca apareceu.
Dr. Norman casou-se com Maria Ana Umana e teve duas filhas, Carla e Claudia. Sua filha Claudia lhe deu um neto, Felipe.
Divorciado, nos conhecemos e nos casamos. Convivemos até seu falecimento em 12 de maio de 2008, vítima do Mal de Alzheimer.
Quando foram decididos os nomes de algumas ruas em Penedo os moradores queriam homenagear Dr. Norman, mas descobriram que não podiam usar o nome de uma pessoa ainda viva para uma rua, daí surgiu a Rua do Médico, em homenagem ao médico que sempre atendia a todos.
Não estaria na hora de mudar o nome da rua para Rua Dr. Norman Leite de Sousa?