PENEDO - Os nossos rios e os finlandeses
25/09/2021 15:18 em Últimas notícias

Fotos: Arquivo pessoal Helena Hilden

 

 

 

Helena Hilden, especial para Rádio e TV Penedo - Toivo Uuskallio escolheu a Fazenda Penedo para fundar sua colônia agrícola baseado na beleza do lugar e também na abundância de água que poderia ser utilizada para irrigar as plantações. A água era pura, com bom sabor. Poderia ser represada formando lagos e poderiam construir canais para irrigação da agricultura. As quedas de água poderiam até ser utilizadas para produção de energia elétrica.

Além do Rio das Pedras, temos também vários tributários como o Rio Palmital, o Rio Pinheiral, o Córrego Frio e outros córregos menores. No começo, não havia pontes em Penedo, o rio era atravessado passando por dentro da água nos pontos onde era mais raso.

Embora o Rio das Pedras pareça um córrego pacato, as vezes pode sofrer enchentes violentas. Quando chove forte nas montanhas, a terra não consegue absorver o excesso de água que então desce para o rio formando o fenômeno conhecido com tromba d’água. O rio se enche de repente.

Quando Toivo Suni construiu sua primeira casa do outro lado do Rio das Pedras, construiu também a primeira ponte de cimento sobre o rio. Mas os finlandeses recém-chegados ainda não sabiam das enchentes ocasionais do Rio das Pedras. No ano seguinte a ponte foi destruída por uma enchente. Toivo Suni resolveu o problema usando uma ponte simples, um tronco de madeira atravessando o rio. Essas pontes simples foram muito usadas em Penedo. Depois os finlandeses aprenderam a construir pontes de cimento mais reforçadas, resistentes a enchentes. Mas tarde, uma ponte de concreto foi construída novamente sobre o rio na altura da Vila de Verão de Toivo Suni. Esta mesma ponte já foi derrubada pelo rio diversas vezes.

 

As pontes primitivas de Penedo

 

Os finlandeses contam muitas histórias sobre as enchentes, algumas delas bastante trágicas. Uma noite de sábado todos dançavam alegremente no Clube Finlândia, enquanto chovia lá fora. No final do baile os dançarinos perceberam que o Rio das Pedras estava transbordando, alguns resolveram esperar a água baixar antes de tentar ir para casa. Mas outros queriam ir logo descansar. O Sr. Jamsa, marido de Dona Siiri, se ofereceu para levar o filho de um hóspede de sua pensão em seu cavalo. Quando D. Siiri chegou em casa encontrou somente o cavalo molhado. Chamou os vizinhos que rapidamente organizaram uma busca. Os corpos do homem e do menino foram encontrados na margem do rio.

 

Certa noite, Dona Maija lia um livro sob a luz do lampião a querosene, ainda não havia energia elétrica em Penedo. Pensou ter visto algo estranho no lado da porta, mas continuou lendo. Mas, havia algo realmente estranho, o tapete parecia estar em movimento. Dona Maija pegou o lampião e foi verificar mais de perto. O rio havia enchido com a chuva, a água entrava por baixo da porta e carregava o tapete.

 

Outro finlandês foi dormir ouvindo o barulho calmante da chuva. Acordou de manhã e levantou para fazer seu café. Ao pôr os pés no chão se assustou, os pés mergulharam até os tornozelos na água fria. A enchente cobria todo o chão da casa com um palmo de água.

 

Outra família enfrentou uma situação curiosa. A mulher resolveu abrir a porta da cozinha para ver a chuva, então uma enxurrada de água e lama entrou pela porta aberta. Ela gritou assustada para o marido: Entrou uma bananeira inteira junto com a água pela porta da cozinha, o que faço agora? O marido respondeu calmamente: Abre a porta da sala para a bananeira sair. A mulher abriu a porta da sala e a bananeira foi embora com a água. O mais difícil foi fechar a porta da cozinha contra a força da água para evitar a entrada de outras bananeiras!

 

Outra senhora finlandesa afirma ter visto uma geladeira descendo o Rio das Pedras em uma enchente. A água das enchentes costuma arrastar troncos e pedras bastante grandes.

 

Atualmente o reflorestamento natural dos morros de Penedo ajuda a diminuir as enchentes, a vegetação ajuda a reduzir a velocidade da água permitindo que seja absorvida pelo solo antes de chegar ao Rio.  A parte alta de Penedo não tem problemas com enchentes, o rio tem um declive acentuado e a água corre rápido, não acumula.

 

Mas a parte mais baixa de Penedo, onde fica a maioria das lojas, é diferente, uma parte plana, onde o rio corre mais devagar e a água acumula quando a chuva é muito forte. Isto é um fenômeno natural, ocorre com todos os rios.

 

A situação é pior em Penedo, onde os muros e casas construídos nas margens do rio reduzem seu leito, atrapalhando o escoamento da água.  Contida entre os muros, a água  procura o caminho livre mais próximo, que são as ruas de Penedo, onde provoca enchentes e prejuízos para as pessoas que constroem sem se preocupar com o espaço que deveria ser reservado nas margens dos rios.

 

Finlandeses visitando as cahoeiras na década de 1930

 

Os finlandeses, amantes da natureza, não construíam muros ao longo do rio, queriam ver e apreciar a beleza do rio, seus jardins desciam suavemente até a água. No caso de enchentes o rio subia lentamente pelo jardim, sem causar grandes prejuízos.

O rio de Penedo sempre foi uma atração para os turistas. O local conhecido como Três Cachoeiras era utilizado como balneário pelos finlandeses que chegavam na cachoeira por uma trilha. Com a abertura da estrada o local começou a ser utilizado pelos moradores de toda a região como área de lazer. O excesso de pessoas acabou destruindo parte da natureza no local.

As outras cachoeiras de Penedo ficam um pouco mais acima, com acesso por trilhas. Mas nos dias de calor estas cachoeiras também ficam cheias de gente da região, buscando um local para banho e lazer.

 

Mais brincadeiras nas cachoeiras

 

Mas infelizmente as pessoas também jogam lixo nos rios. Já encontrei muitos objetos úteis, inúteis e curiosos trazidos pelas águas do rio. Uma panela que meu pai passou a usar para preparar a comida do cachorro. Uma frigideira que minha mãe pintou e usou como placa na sua loja de artesanato. Muitos pedaços de louça e vidro. Bonecas e outros brinquedos e objetos de plástico. Muitos chinelos e sapatos. E o objeto mais curioso: uma bíblia, ainda legível apesar de estar encharcada de água.

Além do lixo, nosso rio sofre com o despejo de esgoto.  O sistema de tratamento de esgoto com fossa e sumidouro é simples e eficiente, era usado por todos os finlandeses em suas casas. Mas este sistema exige espaço, terra descoberta para filtrar o esgoto. Quando uma pousada, restaurante, loja ou até mesmo uma residência, cobre todo o terreno com construção, não existe espaço para construir uma fossa e sumidouro com tamanho adequado. Quando a construção fica muito perto da margem do rio, não há terra suficiente para filtrar o esgoto, então este acaba poluindo o rio. Por este motivo as leis brasileira e internacionais não permitem construções muito perto dos rios.

O sistema adotado por algumas pousadas com um tanque para coletar o esgoto que depois é transportado por caminhão para outro lugar também não é muito bom. O que acontece se o caminhão se acidentar no caminho? E para onde vai o esgoto, será que recebe tratamento adequado? Ou é despejado em qualquer lugar?

A engenharia fornece diversas soluções para tratamento de esgoto. Algumas mais simples e baratas, outras mais complexas e caras, depende de cada caso. Como Penedo ainda não tem um sistema municipal para tratamento de esgoto, cada morador, cada empresário é responsável pelo tratamento do seu esgoto. Se queremos ter turismo precisamos ter um rio limpo, se queremos um rio limpo, cada um precisa tratar seu esgoto adequadamente. Jogar o esgoto no rio ou no terreno do vizinho não é solução, é um problema que irá afugentar todos os turistas, e trazer doenças e prejuízos para todos.

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