A festa comemorativa dos 90 anos do monumento do Cristo Redentor será em 12 de outubro deste ano, mas o Projeto de Restauro Cristo 90 Anos está a pleno vapor. A ação começou no dia 27 de outubro do ano passado e conta com ações preventivas.
A arquiteta da obra, Cristina Ventura, informou à Agência Brasil que, no momento, o projeto dá seguimento à fase de levantamento. Foram feitos o escaneamento interno em 3D da estátua e os testes laboratoriais para pedra sabão na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Estão sendo feitos também testes laboratoriais do concreto armado e da argamassa armada. “Essa é a fase de diagnóstico. O restauro do Cristo Redentor é um trabalho que se inicia com um levantamento do tratamento de conservação preventiva do monumento”, apontou a arquiteta. Já estão em processo de análise também os testes de corrosão.
Segundo Cristina, o trabalho vai além da restauração de obras emergenciais de algum reparo identificado como necessário. “É uma leitura de como a materialidade está se comportando 90 anos depois, quais são os agentes que colocam em risco o Cristo Redentor e como a gente pode anular esse risco”. Cristina Ventura afirmou que o trabalho de conservação preventiva passa a ser feito como uma rotina para o monumento.
A arquiteta ressalta que se o Museu Nacional tivesse uma conservação preventiva, provavelmente o prédio estaria de pé até hoje. Situado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, bairro da região central do Rio de Janeiro, o Museu Nacional foi atingido por um incêndio de grandes proporções na noite de 2 de setembro de 2018, que destruiu a quase totalidade do acervo histórico e científico construído ao longo de duzentos anos e que abrangia cerca de vinte milhões de itens catalogados.
Ações
Cristina informou que os restauros que tiverem de ser feitos na estátua do Cristo Redentor é porque apresentam perdas por conta da oxidação, da ação dos raios. “A ideia é que se consiga fazer as ações curativas e ações preventivas”. Reiterou que para fazer ações preventivas, é preciso compreender como a estrutura do monumento se comporta hoje e quais são os agentes que mais trazem risco. A arquiteta lembrou que a pedra sabão usada na construção do Cristo Redentor tem 90 anos, o mesmo ocorrendo com a argamassa, o cimento, a ferragem. “Esse grande levantamento está sendo feito. Esse é o grande trabalho para identificar como a estrutura de concreto armado está se comportando hoje”. A arquiteta salientou que a ação maior “é prevenir”, para não ter problemas adiante.
A equipe multidisciplinar que toca o projeto conta com cerca de 40 profissionais, entre os quais engenheiros estruturais, engenheiros elétricos e de segurança, geólogos, arquitetos, técnicos em escaneamento 3D, alpinistas, escultores, pedreiros. Cristina Ventura disse que eles estão se reunindo para montar o cronograma para 2021. Ela acredita que na semana que vem já terão alguma definição. As obras de restauro serão efetuadas na parte externa do monumento. A perspectiva é entregar o monumento restaurado antes da data do aniversário. “Essa fase 1, que já pega bastantes elementos, termina antes de outubro, com o Cristo restaurado”. Isso inclui o Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (raios).
Demandas futuras
Cristina salientou, por outro lado, que o próprio levantamento vai criar demandas de trabalho que ficarão para fases seguintes, em 2022. O levantamento vai apontar “o que está muito bom, o que está médio e como a gente vai dar mais longevidade ao Cristo Redentor, seja com relação à umidade, à salinidade”. Lembrou que o Monte Corcovado, onde o monumento está situado, é um ambiente agressivo, porque está a 710 metros de altura e apresenta mudanças bruscas de temperatura que afetam os materiais usados na construção do Cristo Redentor. A ação do meio ambiente sobre a estátua “demanda pesquisa que tem de ser feita sempre”, indicou a arquiteta. Ela deixou claro que enquanto a pesquisa estiver sendo feita, “estamos garantindo que o Cristo está sendo cuidado”
O levantamento cadastral utiliza a tecnologia da fotogrametria aérea e terrestre, feita com auxílio de drones equipados com câmeras de alta resolução. Além da Universidade Federal de Ouro Preto, participam do projeto as universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Juiz de Fora (UFJF).
Apoiadores
O projeto segue exigências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR). Entre as novidades previstas está a troca, pela Qualicorp, administradora de planos de saúde coletivos e uma das empresas apoiadoras do projeto, de toda a iluminação que, a partir de agora, será eco-amigável, com energia sustentável e de baixo consumo, além de oferecer energia limpa para recarga de celulares. São apoiadores também a mineradora Vale e a Refit.
O projeto prevê ainda a implantação de uma plataforma de acessibilidade e a reforma da Capela do Santuário. O projeto foi desenvolvido com base em estudos, levantamentos e pesquisas realizados pela empresa Cone Sul desde 2016.
Calendário
Falando à Agência Brasil, o reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, acentuou que o monumento, porta de entrada do turismo nacional, tem estabelecido uma relação de afeto simbólica que permite enxergar a beleza do povo do Brasil e estabelecer uma nova realidade, marcada pela solidariedade e pelo desenvolvimento sustentável. “Assim que a pandemia cessar, assim que tivermos o povo vacinado, iremos alavancar um grande calendário, com inúmeras atividades sociais, culturais, de meio ambiente, fazendo de fato com que todo o Brasil possa celebrar o seu grande monumento”.
A ideia do padre Omar é, ao celebrar os 90 anos do Cristo Redentor, estabelecer uma nova relação, marcada pela solidariedade comum e na certeza de que dias melhores virão. “O Cristo Redentor, que encanta turistas, peregrinos, visitantes das mais diversas partes do Brasil e do mundo, é que nos ajuda a entender que a fé é um dom maior e, ao mesmo tempo, um trabalho de todos nós para ajudar a consolidar dias melhores em nosso país”.
(FONTE: Agência Brasil / EBC)