A vacinação contra a Covid-19 no Brasil teve início no último domingo (17), em São Paulo, logo após a aprovação para o uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No decorrer da semana, doses da CoronaVac destinadas ao Ministério da Saúde foram distribuídas por todo o País, dando largada a escala de imunização.
Em bate papo exclusivo para o portal Brasil61.com a infectologista, Sylvia Lemos Hinrichsen, que é professora titular do Departamento de Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), esclareceu dúvidas e mitos sobre a vacina.
Apesar da “luz no fim do túnel" que surgiu com o início da imunização dos grupos prioritários, a infectologista destacou que é preciso ter consciência de que ainda estamos distantes do fim da pandemia. “Ao mesmo tempo, nós temos que ser esperançosos e realistas, não vai ser da noite para o dia que isso tudo vai mudar. As pessoas precisam estar conscientes e ao mesmo tempo corresponsáveis”, disse.
Ela destacou também a importância de uma coordenação logística dos gestores municipais para alcançar a meta de até meados de setembro ter dois terços da população vacinada. Na sequência a médica explicou o que é a imunidade de rebanho, técnica que uma determinada parcela da população se torna imune a uma doença, agindo como uma barreira, protegendo mesmo aqueles que ainda não são imunes.
Para a infectologista este é um conceito difícil de ser alcançado não só no Brasil como no mundo, a falta de insumos deve ser o grande gargalo para a produção de vacinas em grande escala para a maior parcela da população. “A grande dificuldade que nós vamos ter e todos os países vão ter é o acesso aos insumos ativos para produzir a vacina. Essas vacinas são caras, as produções são caras”, pontuou.
Sylvia Lemos Hinrichsen reconheceu que as informações falsas que circulam sobre possíveis perigos da imunização estão fazendo muitas pessoas não quererem tomar a vacina. Mas ela tranquilizou quanto a segurança e eficácia dos imunizantes já aprovados. “Ninguém vai virar jacaré, como estão falando por ai!”, brincou.
Sobre os possíveis efeitos colaterais, a infectologista acrescentou: “a curto prazo, o que foi observado é o que toda vacina dá. E como essa vacina da CoronaVac, como também da Astrazeneca tem metodologias já anteriores, o que constataram foi um certo desconforto que pode ter no princípio. Mas isso está também no plano da própria Anvisa, as empresas até fevereiro tem que mostrar o que a gente chama de farmacovigilância.”
Segunda dose
A infectologista destacou ainda a importância da segunda dose. Segundo a médica, não adianta comemorar a primeira vacinação se ela não for reforçada, apenas a dosagem correta pode garantir a eficácia e a imunização. “Se tomar a vacina A, a segunda dose é da vacina A. Se tomar a vacina B, a segunda dose é da vacina B. Não pode intercambiar ainda, em um futuro quem sabe, mas por enquanto não.”
Mesmo depois da vacinação, a doutora Sylvia Lemos Hinrichsen afirmou que será necessário continuar tomando as medidas de distanciamento e os cuidados de higiene como uso de máscara e álcool em gel, por tempo indeterminado. E que não é possível esperar o fim da pandemia em um futuro próximo.
“A minha mensagem é: vamos ser corresponsáveis com todos os processos. Vamos nos juntar com um foco, um propósito. Não vamos esperar que a pandemia acabe para ser como era, eu acho difícil ser como era. Porque você não passa pelo mesmo rio duas vezes do mesmo jeito, já dizia o filósofo Heráclito”, concluiu.
Acompanhe a seguir a entrevista completa com a infectologista e consultora da SBI, Sylvia Lemos Hinrichsen.