HISTÓRIAS DA HELENA - As "Lendas" de Penedo
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Publicado em 12/05/2021

 

 

Helena Hilden, especial para a Rádio e TV Penedo - Algumas pessoas perguntam sobre a origem do nome Penedo. Os menos informados perguntam se é uma palavra finlandesa. Alguns questionam se seria uma palavra indígena.

Penedo é uma palavra derivada do latim pennetum, que significa grande pedra, calhau, fraga, penhasco, rochedo. A palavra foi usada pelo poeta português Luis de Camões no Canto Quinto, estrofe 56 do seu poema “Os Lusíadas”:

 

 

 

Oh! Que não sei de nojo como o conte:

 

Que, crendo ter nos braços quem amava,

 

Abraçado me achei c’um duro monte

 

De áspero mato e de espessura brava,

 

Estando c’um penedo fronte a fronte,

 

Que eu pelo rosto angélico apertava,

 

Não fiquei homem, não, mas mudo e quedo

 

E, junto dum penedo, outro penedo!”

 

 

 

A antiga Fazenda Penedo recebeu este nome devido ao penedo, ou rochedo situado na colina atrás da sede da fazenda.

 

 

 Penedo com a antiga senzala em primeiro plano

 

 

 

A MALDIÇÃO

A Fazenda Penedo foi adquirida pelos finlandeses em 1929 da Abadia de Nullius da Nossa Senhora de Monte Serrat. Por ter pertencido a uma abadia, e sido uma fazenda de café com mão de obra escrava, surgiram muitas lendas de fantasmas em Penedo. Contavam que no tempo da escravidão havia um abade muito malvado na fazenda . Obrigava os escravos a trabalharem o tempo todo e os castigava muito severamente quando não aguentavam mais trabalhar.

 

Um dia os escravos se revoltaram, arrastaram o abade até o Penedo e o jogaram lá do alto. O abade, agonizando antes de morrer devido à queda, amaldiçoou Penedo durante cem anos. Mais tarde, os escravos arrependidos teriam colocado no local a cruz que está lá até hoje, mas isto não passa de uma lenda, a cruz é bastante recente, no tempo dos finlandeses não existia nenhuma cruz, mas o Penedo sempre foi um mirante bastante visitado pelos colonos.

 

Muitos colonos finlandeses afirmavam ter visto o fantasma do abade na antiga sede da Fazenda Penedo. Ouviam passos caminhando no assoalho de madeira, suspiros e gemidos, correntes arrastadas, portas que abriam durante a noite, um finlandês contava ter visto o abade sentado em uma cadeira de balanço.

 

Dizem que devido à maldição do abade todos os empreendimentos fracassaram em Penedo: a colônia agrícola dos finlandeses, o cultivo de plantas medicinais da Plamed, os loteamentos e muitos outros empreendimentos. Provavelmente já se passaram mais de cem anos desde a maldição, então seus efeitos já devem ter acabado.

 

Toivo Uuskallio contava uma história curiosa: certa noite dormindo na sede da fazenda, foi acordado por um ruido estranho ao lado de sua cama. Assustado, acendeu uma vela para ver o que estava acontecendo. Não havia energia elétrica em Penedo naquele tempo. Toivo ficou ainda mais assustado vendo seu sapato se arrastando lentamente pelo chão! Como assim? um fantasma havia calçado o sapato? Levantou-se e pegou o sapato. Um enorme besouro estava sob o sapato e o arrastava pelo chão. Um fenômeno da natureza, nada sobrenatural.

 

 

 Toivo Uuskallio, que teria visto seu sapato ser arrastado

 

 

Liisa Uuskallio também teve seus encontros durante a noite. Foi acordada por um ruído que considerou realmente sobrenatural, que parecia vir da outra ponta da sede da fazenda. Sendo uma mulher finlandesa corajosa, acendeu uma vela e foi de camisola e meias de lã investigar o ruído. Caminhou até o quarto de onde parecia vir o ruido e abriu a porta. Iluminou o ambiente com a vela e começou a rir. Alguém havia amontoado chapas de zinco em um canto. O ruído sobrenatural era causado por dois gatos pulando sobre as chapas, provavelmente caçando ratos.

 

 

 Liisa Uuskallio, que teria ouvido ruídos sobrenaturais na antiga sede da Fazenda Penedo

 

 

 

O TESOURO

 

 

 

Durante a década de 1940, na época da empresa de plantas medicinais, o diretor da empresa Plamed afirmou ter visto o abade. Acordou assustado, com uma sensação estranha, viu uma sombra sentada na cadeira no seu quarto na sede da fazenda, acendeu sua lanterna e a sombra desapareceu, apagou a lanterna e lá estava o abade sentado na cadeira. Não conseguiu encontrar uma explicação lógica para sua visão.

 

 

O administrador da Plamed, que teria visto o abade em seu quarto no meio da noite.

 

Mais tarde, convidaram uma vidente que realizou uma sessão em Penedo e disse ter conversado com o espírito do abade que havia amaldiçoado a região. Ele teria dito que sua maldição iria durar mais 30 anos, depois seria encontrado um grande tesouro em Penedo.

 

Durante muitos anos todos procuraram este tesouro em Penedo. O finlandês Toivo Sipilä costumava contar como procurou o tesouro. Quando era administrador do hotel que funcionava na antiga sede da fazenda, contratou alguns homens para fazer uma reforma no piso de uma sala nos fundos da casa. Durante a reforma foi descoberto um quadrado na madeira do piso que havia sido cortado e recolocado no lugar. Sipilä pensou logo que havia descoberto o esconderijo do tesouro. Mandou remover o quadrado de madeira e então:

 

- Quando botei a cabeça no buraco para ver se o tesouro estava lá, vi uma enorme mão escura passando bem na frente do meu rosto, dei um enorme pulo para trás e caí sentado, muito assustado. Seria a mão de algum fantasma que protegia o tesouro? 

 

Mas a explicação era simples, um dos trabalhadores lembrou do porão da casa e resolveu descer e procurar o tesouro lá embaixo, passou a mão no buraco justamente no momento quando Sipilä também tentava achar o tesouro.

 

Nunca foi encontrado um tesouro em Penedo. Mas talvez o tesouro não seja uma arca cheia de moedas de ouro, talvez o tesouro verdadeiro seja a paz e tranquilidade que muitos moradores e visitantes encontram em Penedo, ou talvez seja a beleza e a riqueza da natureza de Penedo.

 

 

 

Toivo Sipilä, que não conseguia dormir com as batidas na porta durante a noite.

 

Na década de 1970, Sipilä contou sobre outro encontro com os fantasmas de Penedo. Morava em uma casa pequena ao lado da antiga sede da Fazenda. Todas as noites alguém batia em sua porta. Sipilä acordava, acendia a luz, abria a porta e nunca havia ninguém lá fora. Aborrecido, reclamou em voz alta:

 

- Senhor fantasma, diga logo o que quer, eu faço qualquer coisa, mas por favor, deixe-me dormir em paz! Se não quiser falar, deixe um bilhete por escrito, eu faço o que você quiser!

 

 Os amigos riam, me conta Sipilä, como o fantasma vai escrever o bilhete? Onde encontrará o papel? Sipilä respondia:

 

- Na minha mesa de trabalho sempre tem um monte de papel e lápis, ele pode usar o que quiser!

 

Tempos depois Sipilä descobriu que as batidas na porta na verdade vinham do forro de madeira da casa, provocadas pelo gambá que habitava o teto de sua casinha. Temos muitos gambás em Penedo, são responsáveis por muitos barulhos noturnos estranhos, principalmente nas casas antigas com forro de madeira no teto.

 

E você, já encontrou o abade em uma noite escura? Ou achou o tesouro?

 

 

 

 

 

 

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