As Danças Folclóricas Finlandesas diferem bastante dos outros países da Europa. No entanto, são variações das antigas danças de salão praticadas em toda a Europa. A tradição mais antiga vem dos tempos medievais, quando os “caroles” eram populares na França. Eram danças de corrente simples onde uma linha de dançarinos se movia para frente, andando, correndo ou saltando ao som do seu próprio canto. Os dançarinos não eram divididos em pares, mas um par podia se separar dos outros para dançar no meio da roda durante algum tempo. As danças e as canções não tinham ligação, qualquer canção podia ser usada para qualquer dança. Ainda não havia acompanhamento de instrumentos. Estas danças sobreviveram um longo tempo na Finlândia, especialmente nos casamentos, onde eram usadas como danças rituais até o século 20.
As mais antigas acompanhadas de música instrumental (violino, clarinete, kantele) são o minueto e a polska. O minueto teve origem no século 17 na corte da França. Era uma dança solene executada sem a menor sombra de um sorriso, mas tradicionalmente terminava com uma polska alegre. Nos casamentos o minueto tinha uma posição importante como uma das principais danças cerimoniais.
A dança folclórica da Polska
A “polska” foi influenciada pela música e dança da Polônia (de onde vem o seu nome), e chegou à Finlândia no século 17. “Polska” era um nome geral para muitas danças. Podia ter tempo duplo ou triplo e era dançada em pares, círculos ou correntes. A polska para pares é provavelmente a forma mais antiga e possui duas partes diferentes. Começa com um passo simples, e na segunda parte os dançarinos rodam usando passos que variam de uma polska para outra. Na polska para pares os dançarinos não se movimentam ao redor do salão, ficam no mesmo lugar durante toda a dança.
No final do século 17 os franceses adotaram as danças dos camponeses ingleses (country), chamando-as de “contre dances”. Os passos eram muito mais simples que no minueto. A forma mais antiga era apresentada em uma formação de linha com os pares avançando constantemente ao longo do conjunto. Na França estas danças eram chamadas de “contre danses anglaises”. Os finlandeses adotaram a última parte do nome em sua língua; existem muitas danças folclóricas finlandesas chamadas “ankleesi” ou “ankeliini”.
Mais tarde as contradanças passaram a ser dançadas em formação de quadrado, o que lhes deu o nome “katrilli” ou quadrilha. Normalmente eram danças longas compostas de muitas variações, mas tipicamente uma parte da dança era repetida no final de cada variação. As quadrilhas se tornaram muito populares na Finlândia, o quadrado é a formação mais comum entre as danças folclóricas finlandesas.
Além das quadrilhas com muitas variações, existem quadrilhas curtas com apenas duas ou três variações. Estas danças eram típicas da região central da Finlândia. Uma forma especial de contradança é a de três dançarinos conhecida em muitos países com “tempête”. A pessoa do meio, normalmente um cavalheiro, dança em turnos com as parceiras. Uma figura típica é a “enkeliska”, isto é o “reel” inglês.
“Purpuri” (pot-pourri) é o nome das danças cerimoniais longas que provavelmente se originaram de uma série de danças curtas. Quando o programa dos bailes foi padronizado, isto é, danças executadas sempre na mesma ordem, estas séries passaram a ser consideradas como uma dança única. Continham elementos de muitas danças diferentes, normalmente começando e terminando com uma marcha.
As valsas do século 19
No final do século 19 as danças de conjunto foram substituídas por danças para pares. De fato, as danças para pares eram populares desde a Idade Média e as polskas para pares eram as favoritas na Escandinávia no século 17. A mais antiga destas era a valsa, embora perdendo um pouco de sua elegância ao chegar ao nível popular, como aconteceu com as outras danças. A polca da Boêmia tornou-se muito popular na Finlândia. Substituiu os passos mais antigos em muitas danças de conjunto, e nasceram muitas variações de novas polcas.
No folclore finlandês aparecem três regiões diferentes: a costa oeste de origem sueca, as regiões Ortodoxas da Carélia no leste, e o resto da Finlândia. As danças da Carélia permitem mais liberdade para os dançarinos improvisarem na dança, na região oeste da Finlândia as regras são mais rígidas. As danças do leste da Carélia mostram algumas influências russas, por exemplo, os solos masculinos, que não aparecem em outras partes da Finlândia.
A característica mais importante das danças folclóricas finlandesas é serem danças sociais, nunca foram competitivas ou para espetáculos, não incluem acrobacias, saltos ou levantamentos espetaculares. Sendo uma nação amante da paz, os finlandeses não possuem danças de guerra ou de espadas, tão populares em outros países.
As danças são destinadas para um grupo pequeno, quatro ou oito casais; não são solos nem para grandes massas. Também não são danças só para homens ou mulheres, todos podem participar. Na Finlândia os homens e mulheres sempre foram considerados iguais. Naturalmente os papéis do homem e da mulher são diferentes na dança, mas ambos são igualmente importantes.
Outras características típicas são as numerosas repetições – primeiro os cavalheiros depois as damas, para a direita e depois ao contrário, etc. – e o ritmo simples. Também típica é sua grande variação no tempo, modo, passos e figuras. Existe uma diferença surpreendente entre a polca rápida e alegre e o minueto solene e melancólico.
Mas quais eram as danças finlandesas praticadas em Penedo? Sabemos que os pioneiros ensaiavam as danças folclóricas sob o comando da professora Laura Suni, e se apresentavam em festas e ocasiões especiais.
Com a fundação do Clube Finlândia em 1942, os colonos adotaram as antigas danças de salão finlandesas em seus bailes. Mas Dona Laura continuava ensaiando as danças folclóricas, com mais variações de passos, para as apresentações especiais. As últimas apresentações de dança dos pioneiros finlandeses sob o comando de Dona Laura ocorreram na década de 1960. Laura Suni mudou para a Finlândia em 1964 e os ensaios de dança foram interrompidos.
Com o tempo o Clube Finlândia tornou-se muito popular, frequentado por muitas pessoas da região. Os finlandeses estavam sempre presentes e ensinavam com prazer os passos das danças finlandesas: polkka, jenkka, mazurca e a popular letka-jenkka também conhecida como letkiss.
Grupo de dança finlandesa do Clube Finlândia na década de 1990. Apresentação ao ar livre e no salão do Clube.
Na década de 1970, um grupo de meninas adolescentes finlandesas, todas louras e lindas, faziam apresentações de dança finlandesa para visitantes, turistas e jornalistas.
Com a aproximação dos 50 anos da Colônia Finlandesa, em 1979, a senhora Anneli Turunen resolveu ensaiar um grupo para apresentar as belas danças folclóricas finlandesas. Reuniu seus filhos e seus amigos e começou os ensaios. As apresentações foram um grande sucesso e todos queriam continuar. Dona Anneli dedicou-se muito ao trabalho de coreógrafa, estudou profundamente as danças folclóricas finlandesas, era exigente, as danças deviam ser apresentadas com perfeição, com beleza. Continuou seu trabalho durante muitos anos, ensinou as danças finlandesas para várias gerações de dançarinos em Penedo. Todas as talentosas artesãs finlandesas de Penedo colaboravam costurando lindos trajes nacionais finlandeses para os dançarinos.
No início o grupo de danças se apresentava apenas uma vez por mês, no baile do Clube Finlândia. Mas todos queriam mais, o grupo passou a se apresentar todos os sábados. O interesse em participar das danças era grande, chegamos a ter 40 adolescentes ensaiando as danças finlandesas. Também tivemos um grupo infantil que ensaiava danças mais simples e se apresentava no Dia das Mães, no dia da criança, na festa de Natal. O detalhe mais curioso é que a maioria dos dançarinos era brasileira, sem nenhum parentesco com finlandeses, mas amavam a dança e as traduções finlandesas. Infelizmente, esses grupos não existem mais.
O grupo de danças ficou famoso na região, além das apresentações em Penedo, o grupo viajava, se apresentava em festivais em outras cidades. O Clube Finlândia também recebia grupos folclóricos de outras colônias do Brasil, alemães, portugueses, italianos, russos, visitavam Penedo e faziam lindas apresentações no Clube Finlândia.
Brasileiros representando Penedo no Festival de Kaustinen, Finlândia, em 2000.
As visitas dos grupos de danças da Finlândia sempre foram muito especiais. Merece destaque o Turun Kansantassin Ystävät, os Amigos da Dança Folclórica de Turku, que visitou Penedo pela primeira vez em 1994 para comemoração dos 65 anos da colônia finlandesa, e retornou a cada cinco anos para o aniversário da colônia. Os membros dos grupos do Brasil e da Finlândia se tornaram grandes amigos, os dançarinos de Penedo aprenderam muitas danças novas, viajaram para a Finlândia a convite do grupo, participaram de festivais da cidade de Turku e em outras cidades da Finlândia. Infelizmente o grupo não visitou Penedo para comemorar os 90 anos da Colônia Finlandesa em 2019. Mas esperamos receber nossos amigos novamente nos 95 anos da colônia em 2024.
Turun Kansatanssin Ystävät, dançarinos finlandeses se apresentando em Penedo em 1994.
Brasileiros dançando na Vila do Papai Noel em Rovaniemi, Finlândia.
Desfilando com a bandeira do Brasil em Turku, Finlândia.
Outra visita que merece destaque foi o grupo Alakanta em 2000. O grupo veio participar de um festival de folclore em Recife, depois foi passear no Rio de Janeiro. Ficamos sabendo que o grupo poderia se apresentar em Penedo se providenciássemos o transporte desde o Rio de Janeiro. Conseguimos a colaboração da Prefeitura de Itatiaia que nos cedeu um ônibus para buscar os dançarinos no Rio de Janeiro. Na chegada em Penedo ocorreu um incidente cômico: Um dançarino do grupo de Penedo perguntou:
- O que estão carregando naquele caixão? O colega respondeu:
- Acho que algum dançarino morreu na viagem e estão carregando o caixão dele.
Claro que não era nada disso, o caixão carregava o contrabaixo, um instrumento usado pelos músicos que acompanhavam os dançarinos. Outros dançarinos carregavam troncos de madeira, e todos se perguntavam para que serviriam. Tudo foi esclarecido na apresentação da belíssima dança que representava o trabalho dos lenhadores na Finlândia. O grupo deixou os troncos de bétula com os dançarinos de Penedo, para servir de inspiração. Mais tarde o Grupo PKY usou os troncos para apresentar a dança dos lenhadores, com muito sucesso.
Nas visitas dos grupos da Finlândia contamos sempre com a colaboração dos hoteleiros de Penedo que oferecem hospedagem gratuita para os dançarinos, os donos de restaurantes e mercados fornecem alimentos. Os associados do Clube Finlândia colaboram no preparo das refeições, e os dançarinos brasileiros acompanham os finlandeses e oferecem todo tipo de apoio. Um belo e divertido trabalho comunitário. Esperamos que esta tradição continue por muito tempo.
Em 2005, para a festa dos 75 anos da colônia finlandesa de Penedo, um grupo de amigos finlandeses e brasileiros, liderado pelo casal Inga Hohental e Alberto Costa, resolveu formar um novo grupo de dança folclórica finlandesa para se apresentar nas festividades. Surgiu então o grupo chamado Penedon Kansantanssin Ystävät, Os Amigos da Dança Folclórica Finlandesa, popularmente conhecido como PKY.
Este grupo também foi um grande sucesso, introduziram novas danças folclóricas finlandesas, sempre abrilhantando os bailes do Clube Finlândia. Viajaram, participaram de festivais de dança folclórica na Finlândia, fizeram parceiras com grupos finlandeses, trouxeram um novo ânimo para a dança folclórica finlandesa em Penedo.
Mas então chegou a pandemia e o Clube Finlândia está fechado desde 2020. O grupo PKY não se apresenta mais, não ensaia mais. O que acontecerá com as danças folclóricas finlandesas? Conseguirão sobreviver a pandemia? Esperamos que sim, uma tradição tão bonita não pode desaparecer.
PKY estamos todos com saudades de vocês, vamos voltar a ensaiar e fazer uma apresentação para a TV Penedo?